Por Jacques Fonseca Beduhn.
Ser humano é engraçado.
Você dá a ele a maior biblioteca do mundo e ele a
usa para fofocar e jogar Candy Crush.
O que faz tanto sentido quanto usar livro como
calço de mesa.
Pode, mas não deve.
Atualmente, para grande parte da população, a
internet funciona como porta de entrada para os acontecimentos do mundo além de
suas paredes; ela é tão indissociável do cotidiano quanto parente traíra em
filme de máfia.
E, para ambos, a regra, caso existisse, seria a
de confiar desconfiando.
Em muitos casos, ela, ao invés de ser a solução,
torna-se o problema, já que grande parte de seus usuários se vale desse
grandioso meio apenas para descarregar suas frustrações e reforçar aquilo que -
pensam que - sabem.
O que ocorre é que, na maioria dos casos, as
pessoas não sabem que não sabem, ou seja, sabem tão pouco que não poderiam - e
nem deveriam - opinar.
Infelizmente elas não sabem disso.
Daí surge toda uma miríade de disparates
alucinatórios mais deprimentes do que a filmografia da Daryl Hannah: chips em
vacinas, tupiniquinazismo (doutrina genocida recauchutada para as novas
gerações de odiadores profissionais não pagos; isso num país onde o único
“ariano” que realmente conta é o Suassuna), terraplanismo (geocentrismo elevado
à enésima potência), teorias conspiratórias que não seriam viáveis nem num
filme sessentista do 007 e por aí vai.
Fora isso, ainda temos aqueles que preferem
aprender de um coach do que um professor, ou seja, preferem ouvir aquilo que
querem, ao invés do que precisam.
“Coach”, nada mais é do que cantoria de sapo
barulhento, charlatanismo ciberneticamente aceito, como o intuito de tirar dinheiro
e dignidade dos cognitivamente incautos.
Para evitarmos armadilhas, devemos usar, entre
muitos instrumentos, o omnibus dubitandum
(tudo deve ser questionado), que, aliada ao bom senso, é uma ferramenta
filosófica que deve ser aplicada sempre que nos deparamos com algo novo.
Mas acontece que, se duvidarmos de tudo, não
viveremos nada.
Como diria o saudoso astrônomo entusiasta da ciência,
Carl Sagan “deve-se ter a mente aberta, mas não o suficiente pro cérebro cair
no chão”.
Aprender é como amar, doloroso porque vale a
pena, e tão necessário quanto.
Nunca antes na história da humanidade, a mudança
- literal e figurativamente - veio de dentro tanto quanto agora.
Pode-se sim, usar a internet como videogame,
nada de errado nisso.
O problema é fazer isso o tempo inteiro.
Nossa natureza é dualista; somos razão e emoção,
caos e ordem, bem e mal, Michael Bay e John Huston.
O que necessitamos é usarmos esse eterno embate
interno como motor para o crescimento.
O que gera conhecimento, que é poder.
Poder se escolher aquilo em que se acredita.
Em uma palavra, liberdade.
Jacques Fonseca Beduhn
Relativa Seriedade.
Agradecemos ao escritor Jacques Beduhn pela colaboração. Seja sempre bem-vindo!
ResponderExcluirMaravilhosa lembrança do grande Carl Sagan, que nos deixou cedo demais. Adorei o texto!
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