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Ana Cecília e a mãe Maria Aida |
Por Ana Cecília Romeu.
Criança coloca as mãos na cabeça, sem entender nada, fica com o
rosto vermelho. Levanta, pega seu caderno e vai até a professora.
— Mãe, não estou conseguindo resolver o problema - diz a criança.
— Não me chame de mãe, sou sua professora - diz a mulher.
Cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, escola estadual, segundo ano
primário, esta criança era eu; a professora, minha mãe. Lembro-me com clareza
desse fato. Uma mãe que não dava privilégios à sua filha, exercia sua profissão
de magistério com maestria e esforço. Na hora do tema de casa, eu sempre tinha
que errar ou acertar sozinha, se perguntasse alguma coisa, logo me vinha com
“me pergunte em sala de aula”.
Ser mãe é uma verdadeira metamorfose na vida da gente. Se antes
era uma filha, indivíduo, uma partícula; agora encontro-me numa espécie de
célula de duas unidades. Tom e Jerry, queijo e goiabada. Tudo passa a ser
decidido em conjunto, ou considerado para mais de uma pessoa.
Como mãe, tenho que ser uma criança, há pouco aprendi a brincar de
pular corda; a contar historinhas imitando vozes; recitar poesias; aprendi a
ser cozinheira - até agora só sabia fazer o arroz “unidos venceremos” -; e a
trabalhar de madrugada, se isso fizer com que fique mais tempo com minha filha;
e a ser a modelo da capa, se isso a fizer sorrir.
Serei mãe sempre, contrato sem dissolução. Agora sou mais de uma
pessoa, sentindo e planejando por duas. E quando ela construir seu próprio
caminho, ainda estarei com uma mochila nas costas para acompanhá-la. Minha
filha só será criança uma vez na vida, adolescente, moça. Se tiver daqui a
alguns anos que ouvir seus desamores; receber o namorado, mesmo que não tenha
gostado dele; torcer para que passe num concurso; comemorar o primeiro emprego;
eu farei. Sempre estarei onde ela estiver. Sou mãe, agora é para sempre. Que
diga a minha grande professora, mas que ainda só consigo chamar de “mãe”. Sem
cargos nem ofícios, só amor.
Ana
Cecília Romeu é editora
da Camino, publicitária e escritora gaúcha. Também estudou Arquitetura e Artes
Plásticas. Autora dos livros Elvis
Economiza Gasolina em Cinco Marchas (Palmarinca, 2014); Janela da Poesia
(Palmarinca, 2015), e Coisas que Descobri na Quarentena (Camino Editorial,
2020). Desde 2010 publica crônicas e ensaios em jornais do Brasil. E desde 2011
ministra a oficina poética que idealizou - Janela da Poesia - com crianças em
idade pré-escolar e ensino fundamental.
Minha mãe! Grande exemplo de força e ética!
ResponderExcluirCrônica anteriormente publicada no Jornal O Dia; Jornal do Comércio; Correio do Povo; Jornal NH; Gazeta do Sul; Diário de Pelotas; Correio de Gravataí; Correio de Cachoerinha; Correio de Viamão.
ResponderExcluirAsí,es! La maternidad.
ResponderExcluirUn estado emocional,que no sabe de biología ni de genética.
Me gustó tu cuento.
Muchas gracias.
Gracias! 🙏☺
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