Por José Bruno Silva.
Falar
sobre temas espinhentos não é nada fácil, é preciso tato, cuidado e coragem.
Esses são temas sobre os quais pouca gente quer comentar e acerca dos quais
muitos temem se posicionar. Por ser tão necessário o debate acerca de tais
temas é que me dispus a falar sobre um deles, o racismo.
Eu
poderia falar das inúmeras vezes que levei “geral” da polícia mesmo estando na
porta de casa, das outras tantas em que seguranças de supermercados me seguiram
despistadamente pra ver se eu não ia roubar nada... Mas, não, o texto não é
sobre o racismo que sofri, mas sobre os nossos “pequenos” racismos cotidianos,
aqueles que quase passam despercebidos.
Tentarei
explicar isso mostrando como o chamado racismo estrutural me afeta, me
colocando ora como vítima, ora como culpado. Fui criado por minha mãe e por meu
avô materno, ambos brancos, talvez por isso, eu tenha demorado pra me
reconhecer e me aceitar como negro, mesmo tendo vivido tantas vezes as
situações que mencionei no parágrafo anterior.
Por muito
tempo eu desvinculei os atos dos quais fui vítima de seu contexto histórico,
cultural e político, e isso me levou a afirmar por diversas vezes que o racismo
não existia ou ainda que se a gente não falasse de racismo, o racismo
simplesmente desapareceria. Eu não podia estar mais enganado.
A minha
percepção começou a mudar quando ingressei como bolsista em uma faculdade
particular. Pela primeira vez me vi em um ambiente em que negros eram minoria.
A percepção da segregação aumentou depois que passei em um concurso público, e mais
ainda depois que fui promovido para uma função gerencial. A impressão era a de
que a cada degrau que eu subia, o número de negros ao meu lado diminuía.
Da
superação da negação veio a compreensão de que eu também era em parte culpado.
O racismo não existe apenas por causa de quem comete um ato racista. Ele existe
também por causa de quem naturaliza estes atos, finge que eles não existem, se
omite, se cala...
Como bem
disse a filósofa Angela Davis, citada Djamila Ribeiro em seu livro “Pequeno
Manual Antirracista”, “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Nossa tendência de naturalizar aquilo que acontece reiteradas vezes à nossa
volta ajuda a manter as coisas como elas estão. Por isso a desconstrução é tão
necessária.
Em se tratando de opressões, não existe um lugar confortável em cima do muro. O muro, caro leitor, é apenas um prolongamento do espaço do opressor. Sempre escolha o lado do oprimido.
José Bruno Silva
Agradecemos ao José Bruno pela colaboração. Seja sempre bem-vindo!
ResponderExcluirPerfeito! “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”!!! Adorei a abordagem.
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