Por Patrícia Spindler.
Quando sentei para escrever estas palavras pela
primeira vez, não obtive uma frase por completo. As ideias se ultrapassavam, se
embaralhavam e se confundiam como numa corrida labiríntica onde o esforço por
um processo conhecido e racional, de tentativa e erro, não resultou no alcance
do objetivo final. Este é comumente o procedimento mais acertado e frequente
que ocorre na maneira conhecida de escrever ou construir conhecimento. Assim se
faz ciência nos métodos tradicionais. Mas comigo não foi assim, quando tentei
inventar esta escrita. Ao menos desta vez, definitivamente não foi assim. A
inspiração não veio. Não rolou, não fluiu, não aconteceu. E a vida tem dessas
coisas... Numa hora em que é preciso fazer uma entrega no prazo combinado, nem
sempre tudo corre como o esperado. Nem sempre será pela insistência exaustiva
que as palavras e as emoções se expressam como são sentidas e os resultados
acontecem como se espera previamente.
Mas como já sei que inspiração se dá com muita
transpiração, renovei meu prazo com a editora e, com isso, as minhas
esperanças. Acreditei que era uma questão de deixar o tempo processar em mim as
expressões que me acompanhavam intensamente. Que, em vez de faltar talvez
estivessem em excesso, me saturando, me transbordando. Às vezes, é mais difícil
lidar com os excessos do que com as faltas. Como desaguar tais pensamentos sem
medo da inundação? Sabendo do risco que se corre sempre, busquei o fio de
Ariadne como uma forma mais aberta de produzir algo considerando as variações
do viver, que são todas as combinações possíveis, incluindo as que se perdem ou
que escapam quando a intenção é segurar ou apreender.
Nesta situação, procurei não me mexer muito para
não espantar os devires, como diz meu intercessor, o filósofo Gilles Deleuze.
Sem muito sair do lugar geográfico, busquei me engendrar numa viagem que
prescinde de movimento para, sem pontos fixos como referência, deixar-me
transformar por aquilo que me tirava o olhar endurecido e que vinha
equilibrando minha visão de mundo e minhas expressões. Fui tomada por um
deixar-me levar, deixar-me inspirar. Fiz rodopios e piruetas no mesmo lugar.
Busquei manifestações que povoam meus desertos internos. Fiz acrobacias
sensoriais e fui para lugares inimagináveis no encontro com algumas manifestações
artísticas que me desconcertam e me conduz a um eterno vir-a-ser. Busquei
pistas que Ariadne me deixou e passeei pelo seu fio que me fez chegar a algum
lugar inesperado, mas não qualquer. Foi um processo de garimpar vestígios do
que me inspira para produzir ideias e afetos de diferentes ordens e destinos.
Cá estou. Aventurar-se é preciso...
Patrícia Spindler
Psicóloga, psicoterapeuta, professora das Faculdades de Psicologia da IENH e da Fadisma de Santa Maria. Mãe do Vicente, escreve no Jornal NH há mais de dez anos, tem dois gatos, gosta de ler, dançar, viajar e das possibilidades que vida oferece.
Agradecemos a querida Patrícia pela colaboração. Seja sempre bem-vinda!
ResponderExcluirObrigada pela linda oportunidade! Longa vida à Camino Editorial!!
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